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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Operação, parte II

"É tu, Senhor, que me alimenta de amor e paz. Sempre me lembro de ti, mas hoje quis lembrar mais.
Eu muito peço, mas eu pouco rezo... quase nada oro. Eu recomeço e as vezes peco, por isso choro.

Tudo tem sua hora. Tudo vem no seu momento. Eu honro sua honra e sinto o seu sentimento. 
Conheço sua obra e sei que o negócio é sério. Não adianta quererem desvendar seu mistério.

Reflito isso tudo me olhando no espelho... e vejo que estou de pé, mas o coração de joelho!"
Max BO - Tu Senhor


Após acordar numa maca, em uma sala de espera, deitado, coberto e quase paralisado devido a anestesia, senti que a primeira etapa estava vencida. Não consigo me lembrar de muitos detalhes da tarde/noite de sexta, pois a operação e os medicamentos realmente nos dopam. Me lembro passando de maca pelo corredor onde estava internado, lembro ter acenado para minha mãe, namorada, Ana, tio e alguns amigos presentes. Mas sem condição de conversar. E a previsão de três horas na UTI se estendeu e passei mais de 24 horas por lá, voltando para o quarto somente na noite de sábado.

Minhas poucas lembranças da UTI não foram boas. Fui muito bem cuidado, sim. Mas é um lugar triste, preocupante. Eu estava incapacitado de quase todas minhas funções, sendo preciso que enfermeiras trocassem minha roupa, me lavassem e assim por diante. Acredito que cada vez que piscava, algumas horas se passavam. Lembro de gemidos, lamentações e uma triste notícia de falecimento, que agitou os enfermeiros e a toda a noite. Não conseguia mover as pernas direito, mas percebi que não estava com dreno, porém estava com uma Sonda vesical. Esse tipo de sonda é utilizada quando a pessoa não consegue controlar a saída da urina (anestesiado, por exemplo) e é ligada diretamente na bexiga do paciente e na outra ponta uma bolsa coletora.

Sonda Vesical

Confesso que é desconfortável. Os poucos movimentos que conseguia fazer sempre moviam a tal bolsa e me causavam certa aflição. Outra coisa que fui informado é que o cateter da anestesia peridural ainda estava instalado para caso eu sentisse dor. Quando recebi a notícia de que iria para o quarto, logo me entusiasmei e pedi para retirarem a sonda, pois incomodava muito. Apesar de certa resistência, pois a sonda só seria retirada quando estivesse no quarto, o enfermeiro decidiu me atender. A retirada é rápida, porém dolorosa! Após pedir para prender a respiração, a sonda é esvaziada (o tubo que entra pela uretra é inflado quando inserido) e puxada de uma vez... céus, que ardência! 

Após alguns minutos, me recuperei e aí veio outra parte dolorosa: retirar o cateter da anestesia. Na realidade não é uma dor, em si. Mas é muito aflitivo quando o enfermeiro puxa aquele "fio" que esta na sua medula e você sente ele descendo pelas suas costas. Enfim, estava pronto para ir ao quarto.

Anestesia Peridural

Chegando no quarto, sábado a noite, recebi algumas visitas. Meu primo, que viera de Taubaté, num bate-e-volta só para doar sangue para mim e me visitar, estava lá. Minha namorada também. Meu tio. Amigos. Mesmo sem conseguir conversar direito, pois estava exausto, foi muito importante vê-los lá. Era confortador. 

Na mesma noite, ainda tive que encarar a dor de me levantar para ir ao banheiro, já que pedi para retirarem a sonda. Começava a aprender mais algumas lições da vida, pois tive que encarar a vergonha e pedir pra minha mãe me acompanhar e me segurar, pois estava com medicamentos instalados na veia, dor e acabara de passar dois dias, praticamente, só deitado. Percebi que, independentemente da idade, somos dependentes de alguém, em algum momento. Graças a Deus tive minha mãezinha por lá, que não se importou com nada e me tratou da melhor maneira possível. Ela teve que me ajudar a tomar banho, me levantar e deitar, comer... realmente é uma situação ao qual não estava mais acostumado e tive que encarar. Encarar minhas limitações momentâneas, encarar vergonha, encarar que eu precisava mesmo desses cuidados. Embora minha recuperação tenha sido rápida, os dias demoravam a passar.

No domingo soube que a mobilização dos meus amigos tinha dado certo e que a doação de sangue tinha sido um sucesso. Como precisei de transfusão, o hospital pedia para que levasse, pelo menos, dez pessoas para doar. Enfermeiros relatavam que esse era um grande problema, o banco de Sangue vivia vazio e raramente algum paciente conseguia encontrar pessoas para doar. Pois meus amigos ANJOS provaram o valor da amizade e doaram mais de trinta bolsinhas de sangue. Pessoas próximas, pessoas distantes, amigos de amigos, amigos, namorada e até mesmo minha ex namorada. Todos, me provando quanto vale uma amizade, quanto vale se doar um pouco pela vida dos outros. Sim, aquelas bolsas não foram pra mim, mas tenho certeza absoluta que foram extremamente úteis para alguém. Vidas foram salvas graças aos anjos que quiseram me ajudar de alguma forma. Inclusive teve um caso muito especial, que algum tempo depois que já estava em casa, o hospital ligou para minha amiga Magna, que havia doado sangue, e disse que havia uma paciente muito mal, necessitando exatamente do tipo de sangue que minha amiga tinha e o hospital já não possuía mais no banco. Fiquei extremamente realizado em saber que, indiretamente, fui responsável por levar minha amiga para a doação e que por conta dessa doação, outra vida seria ajudada.

Realmente é um capítulo a parte a força e o incentivo que meus amigos vem me dando. No próximo post falarei exclusivamente disso. Muitas outras demonstrações de amizade vieram e só posso ajoelhar e agradecer ter minha família, minha namorada e amigos como esses. Se alguns dizem que passaria por tudo isso facilmente, pois sou jovem, tenho certeza que passei bem pois contei com o apoio de todos. O corpo jovem poderia responder bem aos procedimentos médicos, mas a mente estaria mal se não fossem esses anjos. 

Voltando ao domingo, tive outra demonstração do poder da amizade: Quase vinte visitas no mesmo horário. Foi uma bagunça tão gostosa, me deu tanta força, que lembro como um dos dias mais felizes que tive no hospital. Eu estava visivelmente sensível e chorei por diversos momentos... mas estava super contente. Eram muitos rostos familiares e fraternos. Teve até um amigo que acabou desmaiando, por já não estar muito bem e ter muita gente no ambiente... ê Caerê, viu?! rs...

Mas nem tudo eram rosas. A cirurgia foi um sucesso, não precisei da colostomia e nem de dreno. Tudo ok. Porém, tiveram que retirar metade do meu intestino devido a extensão do tumor: quase dez centímetros! Alguns médicos se mostravam preocupados e todos nós aguardávamos o resultado da análise patológica, que indicaria o estrago do tumor. Seria feito o estadiamento do câncer, para ver a penetração e possível metástase (novos tumores decorrentes do primeiro).

A aflição pairava na minha cabeça. De certa forma, metade do problema estava resolvido... mas... e se tivesse espalhado o câncer? E se minha luta não tivesse ainda nem começado? A probabilidade da morte nunca se fez tão presente na minha vida e isso me trouxe muita introspecção. Muitas dúvidas, poucas respostas... e só a certeza de que queria viver, buscar meus sonhos. Só não sabia como.

A conversa que tive com o Oncologista responsável pela análise não foi animadora. Pelo contrário. Sem ainda analisar tudo, mas com sua experiência, o Dr. procurou me preparar para o pior, que pela extensão do tumor, provavelmente ele teria se espalhado e que eu passaria por quimioterapia, talvez por um ano, talvez por dois... ou na melhor previsão, seis meses. Um dos momentos que quase desabei foi quando ele perguntou se eu queria ter filho no futuro, pois o tratamento possivelmente me deixaria infértil... Me sugeriu procurar uma clinica de reprodução humana, para congelar meu sêmen e assim garantir a possibilidade de ser pai. Porém o procedimento era muito caro e eu deveria me decidir logo.

O Dr. Tiago, a fim de não criar falsas expectativas, procurou me informar que talvez eu ficasse mais um mês internado, que talvez eu fizesse a primeira sessão de Quimio internado... e esse prognóstico me causou cala frios. Não aguentava mais ficar preso, não sentir o vento e o sol. 

Tais notícias bateram forte na minha mente. Não conseguir ser pai? Logo eu, que tenho tanto essa vontade? Foi difícil assimilar isso, além de um monte de coisas que tinha que me preocupar. Para auxiliar a cicatrização da cirurgia foi recomendado que eu caminhasse bastante e também usasse uma cinta cirúrgica, que protege os pontos evitando que eles estourem em caso de esforço físico, espirro etc. Minha namorada me comprou a cinta, que dá firmeza e confiança para se locomover. É altamente recomendável a todos que passaram por cirurgia no abdômen. Existe também modelos que protegem o tórax, entre outros.

Cinta cirúrgica

Mas passaram-se o domingo, a segunda... e na terça feira meus anjos passaram pelo hospital para me trazer as boas novas.

Primeiro um presente simbólico do meu amigo Leny, que junto com o Rafael e Tadeu, me visitaram nesse dia especial. Era um cordão, com alguns origamis pendurados e uma pedrinha em uma das pontas. Me falta memória para lembrar o nome, mas sei que junto com aquele símbolo, vieram as notícias boas. Nesta mesma terça feita, o oncologista passou para me avisar o resultado da análise patológica: Apesar do tamanho o tumor NÃO se espalhou. Na análise de mais de cinquenta linfonodos, todos negativos. Ali, eu nascia novamente.

Dessa vez eu chorava, mas de alegria. Não importava o tratamento, eu não tinha mais a doença comigo! Teria que tomar a Quimioterapia por seis meses, mas era um tratamento preventivo, que visa eliminar qualquer resquício não identificado da doença. Seria uma luta, mas o principal já estava vencido, graças a Deus! Apesar de grande, o tumor permaneceu apenas no cólon. E eu dava graças pela doença ter se manifestado, pois em questão de profundidade na parede do intestino, o tumor chegou ao nível T3. Mais um, questão de tempo, e ele invadiria outros órgãos... Segue um link com informações da tabela TMN, que classificam os tumores, nódulos e metástase: http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-med/temas/med3/t3b_2000/caso12/patoest.html

E as boas notícias não pararam por aí. Após uma visita da Dr. Cinara, chefe que me operou, ficou acertado que eu passaria por uma pequena cirurgia para implante do Port-a-Cath, cateter interno que usaria para tomar a Quimio, preservando assim as veias do braço e diminuindo a dor.

Port-a-Cath 

Port-a-Cath já instalado, puncionado, recebendo medicação.

Esse tipo de cateter é implantado debaixo da pele e tem ligação com algum acesso venoso melhor que as veias do braço, que comumente estouram e prejudicam o andamento do tratamento. No meu caso, o cateter foi ligado a uma veia do pescoço. Se tiverem alguma dúvida, me procurem que explicarei com maior prazer. O uso de um cateter interno é indicado para longos tratamentos e seu custo é um pouco elevado, porém consegui pelo SUS e acredito que todos deveriam conversar com seu médico para esclarecer e solicitar, caso necessidade.

Como o texto ficou muito longo, deixo para relatar o implante e a volta para casa no próximo post. Além de uma postagem especial para meus anjos/amigos... ;)


Max BO - Tu Senhor

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Operação, parte I

"Senhor Deus, nesta noite eu não queria pedir nada. Por que já pedi tanto e tanta coisa me foi dada.
Saúde pra correr e proteção pelas calçadas. Fui invisível para cada alma mal intencionada.

Mas nessa madrugada eu não me sinto bem. Todo mundo dormiu e eu preciso falar com alguém!
Esse silêncio me tira do trilho e ninguém melhor que o pai pra escutar o desabafo do filho.

Entendi o recado. Não sei o que fiz de mais pra ser tão bem cuidado, já estive todo errado, bolado de trocar os passos, quase caindo pro outro lado, mas sei que alguém me carregava nos braços.

Me ofereceram crime, só que eu recusei.
Me ofereceram farinha, só que eu recusei. 
Se a vontade era minha eu não sei.
Só sei que no vale da sombra e da morte eu fechei os olhos e passei.

Só tenho a agradecer por cada dia. E por me fazer maior do que qualquer problema.
Tem quem não acredita em ti, enfim... Eu acredito por saber que o Senhor também acredita em mim!

Eu não sou melhor do que ninguém não. Eu não mereço mais que ninguém não.
Só estou mantendo os meus passos no chão. 
Tudo que eu peço nessa noite é perdão, por que mil cairão mas eu não serei atingido!"
Rashid - Mil cairão



E era chegada a hora da verdade. De frente para meus medos, sem mais como fugir. Dia 25/03 meu grande amigo Caerê nos levou ao hospital. Eu, ele, minha mãe, Ana e namorada. A espera para internar foi de nada menos que sete horas!

Ansiedade, receio, medo, coragem, fé... uma mistura incrível de sentimentos. Nunca tinha passado uma noite sequer em hospital. Como seria? Já tinha sido avisado que operaria no dia 30/03 e fui antes para o hospital pois teria que ter um preparo, alguns cuidados e exames.

Pois bem, quando chegou minha senha, após preencher a papelada, quando coloquei a pulseira de paciente, quando me chamaram ao quarto e tive que me despedir... Acho que Deus segurou minhas lágrimas. Mas muitas delas ainda cairiam.

Só pude subir com minha mãe, que foi minha grande companheira. Dos treze dias internado, ela ficara comigo em onze. As vezes sem conseguir tomar banho, tendo que me auxiliar em todas tarefas, mal alimentada. O amor de mãe acho que é a maior manifestação de Deus. Só tenho a agradecer por essa guerreira ter deixado todas as lágrimas em casa e ter sido meu maior porto seguro. Nossos papeis se inverteram quando fui para o hospital. Eu, que estava forte, inabalável... desmoronei em alguns momentos. Estava muito sensível, chorava com qualquer mensagem, ligação. Já Dna. Fátima estava em um estado de fé e afeto que me dava uma força tremenda.

Durante os primeiros dias recebi inúmeras visitas de médicos de diversas especialidades e realizei muitos exames. O de sangue constatou uma anemia muito forte. Minha taxa de hemoglobina estava muito abaixo dos 13g/100mm3 de sangue (nos homens). Minha fadiga vinha do fato da taxa estar rolando por volta dos 6g, menos da metade do necessário. Isso justificava também minha aparência pálida.

Outro exame que realizei foi uma tomografia para ver aproximadamente a localização do tumor e seu tamanho. Realizei o exame com contraste, ou seja, era necessário tomar um líquido para que a imagem do exame "enxergasse" a região afetada. A preparação é demorada, pois foram dez copos do líquido meio parecido com soro, tomados um a cada dez minutos. Nesse meio tempo, lembro-me ter conversado com uma senhora que havia operado do coração. Foi mais uma das inúmeras histórias comoventes que ouviria por ali.

Tomografia computadorizada

Confesso que estava empolgado em fazer o exame. Afinal, sempre via essas máquinas enormes e tinha maior curiosidade em saber como funcionava. E após ingerir todo líquido, instalaram um soro em mim e eis que fui a sala do exame. Deitei-me e tive que ficar com os braços pra cima. A esteira que deitei atravessa a máquina por diversas vezes. Em um dos intervalos entre a "ida" e "vinda" da esteira, o Doutor presente na sala aplica o contraste no soro e aí a coisa fica estranha... 

Pelo menos no meu caso, após a aplicação do contraste, tive uma queimação muito grande. E o pior, começou nos braços e foi se intensificar numa região não muito confortável para nós homens... rs. Sorte não durar mais que dois minutos todo o processo. Tomografia feita, exames de sangue também, faltava o resultado cardíaco.

Quem me acompanhou nessa parte foi a Dra. Anna Luíza. Pelo pouco que conversamos, ela era nova lá, mas me tratou com muito profissionalismo e competência. Conduziu todos os exames e inclusive tive uma grata surpresa em um deles. Anos anos tinha diagnosticado uma hipertrofia na válvula mitral... algo considerado normal para atletas de verdade e domingueiros também (meu caso). Não era nada com que se preocupar devido o tamanho, mas requeria um certo acompanhamento. Mas ao realizar o eletrocardiograma, nada apresentei! A enfermeira responsável inclusive chamou sua superior para verificar e tivemos a feliz notícia que não tinha nada lá e meu coração estava ótimo!

Com o aval da equipe médica de cardiologia, faltava apenas um porém para ser operado: meu sangue. Com a anemia que estava não aguentaria uma operação. Seria muito arriscado então tive que receber sangue. Nunca tinha pensado a fundo sobre transfusão de sangue e nas vezes que tentei doar, sempre acontecia algo. Mas só vivendo isso pra entender a grandeza do gesto da doação de sangue.

Precisar tomar duas bolsas cheinhas daquele líquido vermelho, escuro, vistoso. Foi uma sensação a parte. Me questionava de quem poderia ser aquele sangue, se ele realmente era compatível com o meu para não dar maiores complicações, o que levou aquela pessoa à doação? Realmente foi algo diferente. Percebemos a importância de um gesto tão humano. Ao final do post enviarei o endereço e maiores infos sobre doação de sangue.

E não é que os efeitos da transfusão são instantâneos? Assim que terminei de tomar as duas bolsas, duas horas cada, já me senti mais disposto, levantei rápido do leito, dei uma volta no hospital... coisas simples que eu já não conseguia fazer com facilidade antes. Minha mãe diz que minha cor melhorou pouco depois, dava pra ver minhas orelhas vermelhas e alguma cor nos lábios. Isso tudo já era quarta feira... estava chegando a sexta da operação. Ao mesmo tempo que me sentia mais disposto, na quarta mesmo começou uma dieta para "limpar" o intestino. Somente comidas pastosas, muito líquido e uma grande dose de ansiedade. Nesta altura já estava confiante e empolgado em operar. Queria resolver logo aquilo, enfrentar de frente meu problema e trabalhar até chegar na solução.

Na quinta realizei um novo exame de sangue e minha taxa de hemoglobina subira para dez, o suficiente para realizar a cirurgia. A tarde os médicos vieram dar maiores detalhes e aqui cito algumas coisas que esqueci no último post: Meu tumor foi do lado direito do intestino grosso, o lado mais largo onde o tumor não atrapalha-ra a passagem das fezes. Quem tem o mesmo problema, mas do lado esquerdo, pode ter maiores complicações, pois o canal é mais estreito e o tumor poder obstruir o caminho, causando inchaços e, em casos mais grave, até mesmo acabar estourando o intestino.

Independente do lado, a operação consiste em retirar o tumor, cortando com margens os dois lados e depois costurando novamente as pontas. Se não consegui me expressar direito e vocês não entenderam, peçam que eu tento repetir de outra forma. Pois bem, as coisas não são tão simples assim. Nesse momento de "remontar" o intestino, pode acontecer das paredes internas não se juntarem muito bem ou demorarem para se fixar. Nesses casos existe a necessidade de realizar a colostomia e esse foi meu maior medo e motivo de muita oração.

Na colostomia, devido as duas partes do intestino não terem se juntado muito bem, exterioriza-se uma parte dele para a saída das fezes, que fica acumulada numa bolsinha. Realmente é algo que pode causar certos constrangimentos e durante um tempo passei com essa real possibilidade.

Bolsinha de colostomia instalada e estoque.

Não que não seria algo que não conseguimos lidar. A saúde vem antes de tudo. Mas para um jovem, com suas vontades, vaidades e inquietude, ter um cuidado todo especial e a possibilidade de situações desconfortáveis era algo muito pesado. Porém estava disposto a enfrentar tudo e espero que quem esteja passando por isso também não tenha tanto medo quanto tive e tenha forças para encarar qualquer situação que é para seu próprio bem.

Após da transfusão de sangue, recebi uma carta do hospital pedindo meu esforço para levar 10 pessoas para doar sangue, já que tinha utilizado o banco e sabíamos bem que o estoque é limitado. Com o pouco de crédito que me restava no celular, entrei na internet e mandei uma mensagem, via Facebook, para meus contatos... e aconteceu uma das maiores demonstrações de amizade que já tive, mas isso ficará para o próximo post.

E então chegou o grande dia. Coração a mil, ligações, mensagens, fé e ansiedade. Chegada a maca, tive que vestir aquele roupão que deixa a nádega de fora... mas o meu eu amarrei bem e isso não aconteceu, ufa! Nossa amiga Ana já estava no quarto e tenho certeza que foi o que ajudou para segurar as lágrimas da minha mãe... e as minhas também. Deitei na maca, nos despedimos com o coração pequeno e parti.

Durante a condução da maca, o enfermeiro foi conversando comigo. E por não focar no assunto da operação, tenho certeza que a intenção daquele anjo era só me distrair. Dali pra frente, outros tantos anjos trabalhariam para que tudo saísse bem. O caminho foi longo, mas não tenho certeza se ele realmente era ou se isso foi reflexo do filme que passava na minha cabeça. Dali algumas horas eu saberia o destino da minha vida e isso não era algo fácil de lidar.

Chegamos ao andar onde ocorreria a cirurgia, minha maca ficou na sala de espera e ali acho que fiz a oração mais sincera, humilde e forte da minha vida. Na cabeça o som do Rashid ecoando como mantra: "Proteja-me na hora da entrada, proteja-me na hora da saída... sei que perante ti eu não sou nada, mas que minha missão seja cumprida". E durante esse momento aconteceu algo que muitos duvidarão, mas minhas lágrimas agora escrevendo e meus pêlos do braço arrepiados são testemunhas do que vivi.

Como sempre digo, mil anjos me acompanharam nesses momentos todos. Amigos, familiares, namorada, médicos, enfermeiro e anjos divinos também. Minha maca se encontrava quase de frente para a sala de operação, separada por um corredor com elevadores no meio. Quem conhece hospitais ou até mesmo o próprio beneficência, sabem que os elevadores são hiper requisitados e com ascensoristas. E durante minha oração, minha vibração com o espiritual, ouço o barulho de quando o elevador chega ao andar. Como todas as outras vezes desde que estava ali, levantei a cabeça para ver se viria algum médico. Pois o elevador parou, abriu as portas e "ninguém" entrou ou saiu. E assim ficou por algum tempo... e ali vi que eram meus anjos chegando, para me consolar, guiar as mãos dos médicos e cuidar para que tudo desse certo. Foi uma sensação diferente, me sentia acolhido, resgatado...  e toda vez que lembro disso me emociono.

Como diz a música que abriu o post, não sei ao certo o que fiz para ser tão bem cuidado por Deus. Nem sei se mereço tudo isso. Pelo contrário, já fiz tanta coisa errada... mas senti de uma forma única o quanto ele esteve do meu lado nesse pior momento da minha vida. Só posso agradecer e ser fiel a ele, pois ele me carregou nos braços em todos momentos difíceis e estava comemorando comigo todas vitórias também.

Pois bem, outros dois anjos médicos foram me buscar, Dr. Felipe e Dra. Patricia. Chegando na sala de operação, além de alguns anjos desconhecidos, lá estavam outros anjos já citados aqui: Dra. Carina e Dr. Tiago, além da chefe de operação e não menos especial Dra. Cinara.

Troquei de maca, parei em uma bem justa ao corpo, que permitia uma maior aproximação dos médicos. Tive que ficar com os braços abertos, formando um cruz. O anestesista chegou e explicou como seria o procedimento. Primeiro eu tomaria algo para dormir durante toda operação e em seguida tomaria a anestesia peridural, que não chega a corrente sanguínea, mas inibe o cérebro de interpretar a dor e é instalada envolvendo a medula espinhal.

E assim que tomei o boa-noite-cinderela da medicina, após dois minutos, apaguei. Daí pra frente das cinco horas de cirurgia já não sei dizer o que rolou. De testemunhas só meus anjos doutores e meus anjos divinos, aos quais tenho certeza foram responsáveis pelas mãos dos médicos. Pouco antes da cirurgia haviam nos avisado que eu precisaria ter uma meia elástica anti trombose durante o processo e assim que parti para a sala de cirurgia minha mãe correu atrás para comprar, deixando com os doutores durante a cirurgia... mas, apagado, não vi quem a colocou e nem em que momento.

Essa meia é necessária devido o tempo que ficamos de repouso durante e pós cirurgia. A má circulação sanguínea nas pernas pode causar trombose, então se vai passar por isso, providencie de ante mão.

Meia elástica anti trombose.

Me recordo muit bem de quem foi a primeira pessoa que vi quando acordei e a primeira coisa que disse: "Dra. Patricia, eu estou com a bolsinha?". E para minha tranquilidade e felicidade, não estava! A primeira vitória já tinha sido dada e muita coisa aconteceria ainda. Mas por hoje, creio que já escrevi demais. No próximo post falarei da doação de sangue, uti, pós cirugia, o implante do port-a-cath e a volta pra casa. Por enquanto é isso... e muito obrigado pelo incentivo e carinho que vêem me dando. "Sua força é minha força"!



*Info sobre doação de sangue no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo:
Para realizar a doação de sangue, é importante saber: 

Menores de 16 e 17 anos agora podem doar (mediante a presença dos pais ou responsável) 


• Ter entre 18 e 65 anos 

• Pesar acima de 50 kg 
• Estar alimentado 
• Estar sentindo-se bem 
• Ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas 
• Aguardar 2 horas após o almoço e 1 hora após o lanche 
• Estar em boas condições de saúde

Apresentar um documento oficial de identificação: RG(Registro Geral), carteira profissional ou carteira de habilitação.

Intervalo entre as doações de sangue: 

• Homens: 2 meses (4 vezes ao ano) 
• Mulheres: 3 meses (3 vezes ao ano) 

Não podem realizar a doação de sangue: 

• Quem teve Malária ou Doença de Chagas; 
• Quem teve Hepatite após o 10 anos de idade; 
• Quem viajou para área endêmica de malária há menos de 6 meses; 
• Quem recebeu sangue a menos de 1 ano; 
• Quem fez tatuagem a menos de 1 ano; 
• Quem utiliza drogas ilícitas; 
• Quem possui comportamento de risco para adquirir doenças

Local das Doações: 
Rua Martiniano de Carvalho, nº 1009 -Bela Vista/ SP Telefone: (11) 3505-6080 

Horário de Atendimento:
De segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
Aos sábados, das 7h às 14h. 

Informações:
Local - Beneficência Portuguesa de São Paulo -1º andar do Bloco I –Sala 133 Telefones: (11) 35051150 ou 3505-1158
E-mail - bsangue@bpsp.org.br 

Estacionamentos Gratuitos:
Rua Treze de Maio, nº 1854 –Bela Vista/SP
Rua Maestro Cardim, nº560 –Bela Vista/SP