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terça-feira, 15 de outubro de 2013


A terapia química

"Nessa madrugada eu não me sinto bem. 
Todo mundo dormiu e eu preciso falar com alguém.
 Esse silêncio me tira do trilho
 e ninguém melhor que o pai pra escutar o desabafo do filho."
Rashid - Mil Cairão

Apesar do tempo desde as últimas postagens, as lembranças do período da Quimioterapia são latentes na minha mente e espero que, compartilhando minha experiência, quebre alguns mitos/medos e motive quem precisar passar por esta fase. 

Devido o procedimento de congelamento de sêmen meu tratamento foi adiado por duas vezes. Em certo momento fiquei receoso por isto, uma vez que era paciente do SUS e poderia enfrentar burocracias mais complicadas adiante. Por sorte, logo após terminar o processo do congelamento, recebi uma nova ligação marcando os exames para iniciar a Quimio. Os pedidos foram os básicos: de sangue, urina etc.

Com resultados em mãos, liguei para a clínica do Oncologista que me acompanhou durante a internação no hospital, analisando meu tumor, tirando dúvidas e orientando sobre o tratamento que enfrentaria. Para minha surpresa, mesmo tendo operado pelo SUS, este Dr. prosseguiria o acompanhamento somente pelo particular e sua consulta custava quase um salário mínimo! Talvez este tenha sido o único ponto, em todo este processo de diagnóstico/operação/tratamento, que poderia reclamar do atendimento. Como que, em nenhum momento, o hospital me avisou desta situação? O paciente que se encontra nesse momento frágil, tende a criar laços com tudo aquilo que desponta como esperança para sua cura. Apesar da sua maneira fria de me dar a notícia relatada no post anterior, era um bom médico e já tinha depositado muita confiança nos seus métodos.

Mas era totalmente inviável prosseguir com o tratamento através de sua clínica, eu não tinha condições de arcar com todos custos que envolviam o tratamento: consultas, exames, locomoção, alimentação...
Visitamos pessoalmente a sua clínica (que prefiro não citar) para buscar o diálogo e uma possível negociação nos preços. Sem sucesso. No máximo seria um desconto que em nada alterava nossa insuficiência financeira. Perguntamos então se no hospital haviam médicos Oncologistas que atendessem pelo SUS e, para nossa indignação, a resposta foi negativa: "Para sua faixa etária não existem médicos do SUS lá no Beneficência Portuguesa", tentaram justificar.

Saímos do consultório revoltados e corremos para o hospital atrás de respostas. E para novo espanto, a secretária do Oncologista particular havia nos passado uma informação totalmente infundada. Há, sim, médicos oncológicos que atendem pelo SUS no Beneficência Portuguesa. Assim como em todo hospital que atenda de maneira pública. Se estiver passando por algo semelhante, vá atrás de seu direito. Não se contente com a primeira informação que chegar. 


// Inclusive aqui vale uma pausa para informações importantes. Independente do seu tipo de Câncer ou condição de tratamento, você possui direitos, assegurados pelo INCA, que "visam minimizar as dificuldades que possam surgir no decorrer de seu tratamento". Para facilitar, o Instituto Nacional de Câncer possui uma cartilha com toda orientação ao paciente. O Hospital AC Camargo também elaborou sua Cartilha dos Direito dos Pacientes com Câncer. Durante o tratamento recebi um manual do Beneficência portuguesa também, além de alguns materiais, que pretendo disponibilizar aqui, contendo orientações de como proceder nos casos do paciente apresentar sintomas decorrentes da Quimioterapia.

Enfrentei uma burocracia enorme e mesmo assim não consegui o benefício de Auxílio Doença. Teoricamente minha cicatriz, exames, tratamento previsto e condição financeira não foram suficiente para convence-los de que eu precisaria do benefício. Uma advogada amiga comentou que tal direito é bem criterioso e as vezes precisa-se tentar duas, três vezes para conseguir. Parei na segunda tentativa, já desgostoso por todo sistema.

Entretanto a garantia da gratuidade no transporte público funcionou super bem. Através do site da SPTrans pode-se solicitar o Bilhete Único Especial para deficientes. O benefício vigora por um ano, com possibilidade de extensão em caso de continuidade do tratamento. E também existe a possibilidade de incluir dois Acompanhantes para o Bilhete.

Assim sendo, apesar de toda batalha de ir e voltar de uma sessão de Quimioterapia utilizando o transporte público, o benefício ameniza os problemas da questão financeira disso tudo.

Existe mais uma gama de direitos: Isenção de ICMS, IPVA, IPI, dispensa de rodízio, cirurgia de reconstrução mamária, entre outros... pesquise nos links supracitados.

Existem diversos canais que informam e auxiliam o paciente durante todo este processo. Destaco dois sites que foram esclarecedores e tiraram muitos fantasmas da minha cabeça: Oncoguia e ABRAPAC. //


Após resolver todo problema de papelada e marcar a consulta, passei pela primeira vez na Dr. Andréia, minha primeira oncologista. Acredito que seja um procedimento padrão: o/a médico(a) avalia seus exames, cria uma ficha sua com peso, altura, descrição da doença, avanço do tratamento etc., estuda qual melhor tratamento indicado e agenda as primeiras sessões. Assim, consegue-se fazer um acompanhamento melhor quanto resultados.

Na minha inocência acreditava que o processo de Quimioterapia fosse uma coisa única, padronizada. Na verdade não. Cada foco da doença é combatido com medicamentos específicos, que podem ser administrados de diversas formas e com diversos intervalos. No meu caso, ajustando minha necessidade com os recursos disponíveis pelo SUS (cota de gastos semanais, tipos de materiais e medicamentos etc) ficou decidido que eu faria a Quimioterapia uma vez por semana, durante seis semana, seguida de duas semanas de repouso. Sendo que esse ciclo se repetiria por três vezes.

Como possuo o Portocath, tive algumas recomendações especiais, quanto cuidado com pancadas na região, a necessidade de uma agulha específica para aplicação e cuidados como limpeza caso houvesse períodos maiores de um mês sem utilizar o cateter. 

Após todas decisões tomadas, a Dra. marcou a primeira sessão para a semana seguinte. E aí se iniciava a segunda parte do meu processo de cura, sempre acompanhado da minha mãe que foi uma verdadeira rocha ao meu lado.


Sala de Quimioterapia

 Basicamente tínhamos uma cadeira, um balcão e um aparelho que controlava o gotejamento da medicação, isto de acordo a minha experiência no Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Apesar de tenso no primeiro dia, o time de enfermeiras e auxiliares era, foi e é sensacional. Super simpáticas, carinhosas e cuidadosas, fizeram com que eu me sentisse a vontade desde o início. A aplicação da agulha especial do Portocath causa um certo desconforto, mas não chega a ser doloroso. Muito pelo contrário, inclusive. Uma vez inserida, não sentimos mais nada durante a aplicação da medicação. Já através das veias do braço, a sensação de queimação é forte e a sensibilidade aumenta muito.

A cada sessão eu passava em torno de duas a três horas no hospital. E neste meio tempo, recebíamos um lanche, suco/danone e um doce. Realmente o tratamento do hospital com seus pacientes é ótimo.

Tomava a Quimio às terças. Sempre saía de lá por volta das 15h e chegava em casa meio pra baixo. Acredito que não tenham sido reações do corpo e sim da mente. As quartas feiras costumam ser mais pra baixo ainda, com falta de apetite e desânimo geral. Nas quintas esse quadro começava a melhorar e quando era sexta feira já estava bem, me alimentando na medida do possível e mais animado. Acredito que isso era devido ao tempo que demorava para meu corpo expelir o veneno a química. Quando comecei o tratamento já avisaram: "A Quimio mata tudo de ruim que você possui no corpo. E tudo aquilo de bom também". Apesar de exagerada, a explicação faz certo sentido. A Quimioterapia destrói todas células que se reproduzem rapidamente, atingindo assim os tumores (formações de células com anomalias no seu dna). Em contra partida, prejudica outros órgãos que possuem formações de células aceleradas como o intestino/estômago, formação capilar (por isso a queda de cabelo) e formação hormonal (por isso a possibilidade de ficar estéril).

Pessoalmente não tive problemas com queda de cabelo, apesar de não achar este o pior dos problemas. O que aconteceu foi que após algumas sessões já percebia a quantidade de cabelos brancos surgiam! Também tive muitas náuseas, vômitos, falta de apetite e feridas na boca.

No próximo post continuarei descrevendo as reações da Quimio, darei algumas dicas que me foram valiosas e vou contar talvez o capítulo mais difícil que vivi durante todo tratamento. Muito obrigado pela força de sempre, pelos comentários, emails e mensagens pedindo para eu terminar de contar minhas história. Como disse no primeiro post, que as informações ou o relato sirvam para ajudar/encorajar que seja uma pessoa só, já considero que minha missão foi cumprida.

quinta-feira, 7 de março de 2013



Quimioterapia vs. Paternidade

"Nossa luta é pela VIDA, não tem como perder essa guerra..."
Projota - NóiZ

Com vinte e poucos anos, talvez não seja prioridade da maioria dos jovens ser pai/mãe. São outras as prioridades: faculdade, carreira, imóveis, carros, festas... Isso é natural. O que não é natural é ser privado do direito de decidir ser pai.

Um fato muito marcante durante minha internação foi a visita do médico Oncologista, responsável por analisar o tumor que removeram de mim e preparar todo o tratamento. As notícias eram preocupantes a princípio: um tumor de quase 10cm. Tiveram que remover metade do meu intestino e o diagnóstico viria em alguns dias. Dias de angústia. Mesmo que a cirurgia tenha sido um sucesso, o resultado na análise patológica poderia confirmar uma metástase. O resultado era imprevisível, devido à extensão do tumor.

Mas isso tudo já era esperado. Sabia dos riscos e possíveis consequências. A notícia que realmente me chateou foi dada de maneira tão informal... Acompanhei o Dr. até o elevador, um pouco antes de descer ele me pergunta

- Você pensa em ser pai?
- Claro que sim -respondi; por que?
- Com a quimioterapia você pode ficar infértil! Seria bom você buscar alguma clínica de congelamento de sêmen...
- Mas como, Dr.? Se vocês querem começar a quimioterapia comigo internado... e qual seria o preço de uma clínica dessa?
- Esse trabalho é caro... e eles podem vir recolher 'seu material' aqui no hospital mesmo. Talvez seja um processo reversível depois de dois, três anos...

Logo após, virou as costas, entrou no elevador e desceu. Parte de mim desmoronou neste instante. Sempre sonhei em ser pai... buscar meu filho na escola, leva-lo ao estádio do nosso time, deixar meu caráter como herança. Sempre sonhei em ajudar meu filho a resolver o dever de casa, brincar com ele... enfim, ser pai sempre foi um dos meus sonhos.

E a notícia viria num péssimo momento, pois meses atrás meu pai, meu herói até então, deixara eu e minha mãe para se aventurar pelo mundão com outra mulher. O vazio era enorme. E a possibilidade de não poder escrever uma história diferente com meu filho(a) derrubou muitas lágrimas. Minha mãe me aguardava no quarto e não entendeu o motivo do meu choro. Com muito custo expliquei a situação e tive o conforto do seu abraço.

Dias depois, em nova conversa com o Dr. eu recebi as boas novas quanto minha doença: sem metástase. Na escala TNM fique em T3N0M0 - Tumor invade a subserosa, ou além, sem envolver outros órgãos. O que significa? Que meu tumor chegou muito próximo de contaminar outros órgãos, mas não o fez. Vitória! Talvez em um ou dois anos sem ser descoberto esse câncer poderia custar minha vida, se espalhando pelo corpo. Mas Deus fez tudo da melhor maneira possível e, na prática, eu já estava curado. Digo na prática pois qualquer caso de câncer, na teoria só se afirmar resolvido depois de 5 anos de observação.

Mesmo com a boa nova me via destroçado, desamparado, sem perspectivas de futuro. Eu não poderia ser pai? A única opção viável, o congelamento, era muito cara de acordo as palavras do Dr.. O que fazer, como superar isso? Sai do hospital ainda sem entender. Apesar da alegria de passar a páscoa em casa essas dúvidas acabam comigo. Tive a felicidade de não começar o tratamento internado, pois o hospital precisava do leito e como já estava bem, fui liberado.

Era hora de agir. Me recuperar, me preparar para o tratamento e ao mesmo tempo me preocupar como resolver a situação da futura, mas muito desejada, paternidade. Sentia o peso do mundo nas minhas costas e tinha apenas três semanas para resolver tudo.

Após conseguir andar normalmente e não depender de ajudar para tomar banho ou comer, comecei a buscar clínicas de reprodução humana. Resumindo os milhões de telefonemas, sites e indicações, uma amiga sugeriu o Hospital e Maternidade Santa Joana, no Paraíso. De todos os lugares este me pareceu o  mais indicado para confiar o futuro de uma vida. Além de um ótimo custo-benefício sua estrutura é muito boa e me senti seguro.

O problema era como custear o tratamento? Apesar de mais barato, não estávamos em condição. Antes do procedimento do congelamento, são feitos exames de sorologia (para verificar doenças como Hepatite ou Aids) e não são baratos. Além disso, tinha o custo do congelamento e a manutenção (que se torna anual), totalizando algo em torno de R$1200,00. Não importava, era o futuro da minha família.

Em uma das poucas visitas do meu pai, conversei com ele sobre os custos, meus sonhos e vontade. E a resposta foi mais uma decepção: "Pra que? Hoje em dia nem compensa ter filho... se casar, curte, viaja, mas não tenha filho não...". Assim, não poderia contar nem com aquele que era meu herói. Além de me sentir abandonado no momento mais difícil da minha vida, ainda não tive apoio nesse novo desafio.

Foi complicado digerir tudo isso. Confesso que em certos momentos pensei em desistir... já estava cansado de apanhar da vida. Mas para minha família e meus amigos anjos isso não poderia acontecer e trataram de resolver tudo.

Seguindo conselhos da minha mãe e avó, passei no cartão de crédito os valores de exames e congelamento e Deus daria um jeito de conseguirmos pagar. E Deus usou seus anjos para resolver tudo. Vou utilizar as palavras que já tinha escrito em outra postagem:


"Organizada por um anjo/irmão, foi feita uma vakinha para pagar os custos do congelamento e da Quimio, como transporte e alimentação. Em um dia muito especial, me convidaram para um simples encontro. Chegando lá, amigos anjos me esperavam, com comes, bebes e muita alegria. Não entendi direito na hora, pois tinha pessoas queridas que não via a tempos. E em dado momento me foi revelado a ajuda que eles conseguiram organizar."


A surpresa foi grande, não segurei as lágrimas e senti um dos maiores momentos de alegria da minha vida. Pude, numa fração de segundos, fechar os olhos e ver o rostinho de uma criança, dormindo no meu colo. Era um sonho que se tornaria real. Eu poderia ter uma família! E, por mais distante que possa estar, meu filho(a) já tem muitos padrinhos...

Tive que adiar o começo do meu tratamento para realizar todos procedimentos necessários para o congelamento. Mas tudo deu muito certo, pude garantir o futuro da minha família e iria mais confiante para o começo da quimioterapia.

Para quem precisará passar por esse procedimento todo ou simplesmente tem curiosidade, vou explicar mais ou menos como funciona:

O congelamento de sêmen serve para preservar os espermatozóides que, congelados a baixíssimas temperaturas, mantêm suas propriedades e assim garantem a possibilidade de reprodução carregando o DNA de seu portador. No futuro, se a quimioterapia realmente me deixar estéril, poderei decidir quando descongelar minhas amostras e realizar uma fertilização assistida.

A coleta do sêmen é realizada por masturbação, pelo próprio paciente, em sala isolada. Como estímulos existem revistas e filmes pornográficos. O processo é meio desconfortável, em certa dose até engraçado, mas quando deixava a clínica e lembrava do motivo de tudo isso, valia a pena. E são necessárias, para garantir a futura fertilização, pelo menos 3 amostras, feitas em dias diferentes.

Realmente foi algo que pensei nunca precisar, mas que agradeci muito por existir. Durmo tranquilo pois sei que um dia escutarei o riso do meu bebê, independentemente de como ele será concebido.

Ser pai é uma benção que espero alcançar.

Centro de Reprodução Humana Santa Joana
Rua Dr. Eduardo Amaro, 152 - 8º andar - Paraíso
São Paulo - SP - CEP 04104 080
Tel. (11) 5573 3015 – (11) 5080 6048

No próximo post conto os detalhes de como foi enfrentar a quimioterapia. E prometo não demorar tanto para postar novamente... mas em algum momento explicarei o motivo desse hiato entre as postagens, ok?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013



Quarta-feira de cinzas, mais cinza ainda.


Um ano atrás minha quarta-feira de cinzas foi mais cinza ainda. 

Começava uma batalha muito dura que com a força de Deus, família, namorada e amigos consegui vencer. Ainda não oficialmente, mas tenho certeza da minha cura.

Em um ano nossa vida pode virar de cabeça pra baixo. Em um minuto estamos bem e no outro instante vemos tudo desmoronar. A vida, quando bate, bate pesado... mas é aquela história: O que importa é o quanto suportar e seguir em frente. É assim que se ganha!

Faz um tempo que não atualizo o blog. Não cabe agora justificar, mas eu sei da importância de uma palavra amiga e da informação... portanto voltarei a ativa hoje mesmo. Tenho o compromisso de contar minha história, compartilhar minha batalha e ajudar quem esta passando por isso também.

Me desculpem pela ausência nesse tempo todo...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Volta ao lar

"Sigo sem medo pela trilha estreita. Corpo cansado, vermes a espreita.
Eu sei, fui eu que quis assim, pois tenho fé que o mundo é seu. Seja o que Você quiser...

Mesmo que o mundo diga não, se entregar não esta em questão.
Foco e força na missão, põe fé e o coração.

Seu riso não calarão, a luta nunca é em vão.
Há sempre uma solução... seja o que Você quiser!"
Terceira Safra - Seja o que Você quiser

No auge dos meus vinte e tantos, me via preso num hospital e isso me incomodava muito. A inquietude da juventude pulsava forte. Era angustiante a possibilidade de passar a Páscoa no hospital. Os grilhões que lá me seguravam, não podiam segurar minha mente... que em muitos momentos voava alto, buscando um pouco de liberdade. Queria trabalhar, estudar, sair, namorar... viver! E mesmo sabendo que aquilo era uma fase transitória e necessária para meu bem, foi muito difícil lidar com isso.

Lutar para não esmorecer. E essa luta foi travada dia após dia, pois devemos sempre manter a mente sã. Quem luta contra o Câncer deve, sobretudo, ter confiança. Que seja efeito placebo ou não, o importante é recuperar a saúde e a vida.

Após a boa notícia que o meu cateter já tinha chegado, os procedimentos foram tomados. Roupão vestido, boas energias trocadas com os meus e parti, mais uma vez, para o centro cirúrgico.  O implante do port-a-cath é através de uma micro cirurgia, sendo possível inclusive estar acordado durante o processo. Não tenho esse sangue frio e pedi para tomar o "boa noite Cinderela" após a anestesia.

Acordei na maca, meio dopado, mas bem. Apenas com a esperada dor. É algo totalmente suportável, porém me disseram que há pessoas que saem da cirurgia e já vão dirigir, por exemplo. Realmente não foi meu caso, senti um grande incomodo e andei curvado por alguns dias. Não conseguia sequer levantar o braço. Demorou para meu corpo se habituar com o cateter, porém hoje já nem o percebo. De qualquer maneira vale muito a pena para quem será submetido a tratamentos prolongados.

Já me alimentava bem, caminhava bastante e demonstrava uma ansiedade enorme por sair do hospital. Os médicos perceberam a melhora no meu quadro e na quinta feira começaram a falar em alta. Isso só abriu mais ainda meu apetite e humor, fazendo com que meu quadro realmente melhorasse. Foram inúmeras idas à capela ou aos outros andares para demonstrar que estava apto a voltar para casa.

Na sexta feira fui acordado por um dos enfermeiros informado a confirmação da alta médica. Mas nos casos de cirurgia do intestino, existe um procedimento padrão para confirmação da alta: a evacuacão. Como me alimentei muitos dias a base de líquidos, os médicos precisavam confirmar que meu intestino estava funcionando perfeitamente... e aí começou um momento engraçado no hospital. Eu estava doido para ir ao banheiro mas não tinha a menor vontade.

Liguei para minha namorada contando a boa nova. E acordei alguns amigos ligando cedinho e compartilhando a novidade também... Ficou combinado que meu futuro sogro iria me buscar, as malas já estavam prontas, mas ainda faltava ir ao banheiro. Tentaram me ensinar algumas técnicas, mas de fato não creio que nenhuma tenha funcionado. E, após o café da manhã, finalmente meu intestino cumpriu seu papel e deu sinal de vida. Nunca senti tamanha felicidade após ir ao banheiro!
Lembro até de ter convidado minha mãe para verificar o resultado final, como testemunha para eu ir embora... rs

Como ser humano, acredito que só aprendemos mesmo com a dor. Apesar do amor ser um ótimo método também, não o vejo como eficaz. Só sendo privado de muitas coisas que pude dar valor a elas. 

Me despedi dos médicos, enfermeiros e colegas de quarto. Junto com minha mãe e namorada, descemos as malas e tudo mais que usei para ocupar a mente. Desde uma pequena televisão,  emprestada por um grande amigo, até revistas que ganhei de amigos, namorada e do meu tio Zé. Outro grande amigo deixou seu psp comigo e um pequeno grande parceiro, o Renatinho, deixou seus jogos de psp também. Sei que tudo isso parece sem importância, mas no fundo foram todos esses pequenos mimos que me ajudaram a travar a luta para não desanimar. Infelizmente não era todo momento que poderia ter alguém lá do meu lado, para conversar e distrair... então deixo aqui meu muito obrigado a todos que, além de toda força, puderam também colaborar com uma dose de entretenimento enquanto estive internado, fazendo com que as horas passassem mais depressa.

Ah... que alegria descer todos andares do hospital! Que felicidade colocar toda bagagem no porta mala, sentar num banco macio e sentir o vento no rosto. Como foi bom rever o mundo lá fora, sentir o coração pulsar mais forte e intenso. Foi uma dose de vida...

E falando em vida, era sexta feira da Paixão... o dia que Jesus deu sua vida para nos salvar. Como já disse em outros posts, meu ano foi marcado por momento simbólicos. Descobri a doença no Carnaval e passei pelo deserto com Cristo. E agora ia embora do hospital, com a missão cumprida e todas notícias positivas... ganhei uma nova vida no dia que Ele dava a sua por nós. Para alguns pode ser besteira, mas tenho certeza que não...

Pude, enfim, dormir novamente na minha cama, almoçar a deliciosa comida da minha mãe, sentir o ar puro quando quisesse... voltei ao lar e isso não tem preço. Deus abençoe aqueles que são privados disso e aqueles que nem possuem um teto e uma família. É o que temos de mais precioso na vida: nossa mãe, nossa família, namorada, amigos e nosso lar. Aquele lugar que nos sentimos bem e a vontade.


"Cada dia longe é duro suportar, deixa a louça na pia que hoje eu mesmo vou lavar! 
Eu desci a ladeira pra ver o que tinha por lá e voltei pra poder te contar que eu sempre vou voltar...
Não há lugar melhor no mundo que nosso lugar..."
Projota - Desci a ladeira


Ainda precisava da ajuda da minha mãe ou namorada para tomar banho. Ainda sentia dores. Ainda tinha dificuldades em levantar o garfo para comer. Mas nada disso substituiu a alegria de passar a Páscoa em casa, poder comer chocolate, poder partilhar bons momentos com os meus. A guerra ainda teria muitos outros capítulos, mas o mais complicado tinha passado. Era hora de me preparar para o que ainda estaria por vir... No próximo post contarei sobre o congelamento de Sêmen e o começo da quimioterapia, ok? 

Terceira Safra - Seja o que Você quiser

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


Anjos da terra

"Ainda o mesmo de outrora, buscando uma nova aurora. 
Agradeço a você que esta me ouvindo agora.
 Os minutos de sua atenção garantem minha gratidão.

Agradecemos a todos que nos deram amor. Pois nós sabemos quanto é caro o preço da dor.
Dê seu preço se acaso sua amizade tem valor... por teu apreço eu venho, trinco e pago quanto for!"
Contra Fluxo - Dê seu preço


Primeiramente peço desculpas pela minha ausência no blog. De maneira alguma ele foi abandonado... apenas passei por alguns momentos complicados que me impediram de continuar a Quimioterapia e também estive ocupado ajudando a organizar uma doação à orfanatos no Dia das Crianças.

Em seguida quero agradecer, de ante mão, a todos meus amigos que vem me ajudando nessa fase toda, da descoberta da doença até a operação ou agora mesmo no tratamento. Muito obrigado pela força, carinho, preocupação, atitude e atenção. Este será um post especial a todos que vem me carregando nos braços, junto com Deus, nessa caminhada que em outro momento parecia sem saída mas graças a vocês esta terminando da melhor maneira possível.

Por algum tempo acreditei que muitas pessoas que eu amo e sento afinidade de irmão mesmo tinha ido embora da minha vida. A correria, as responsabilidades, a distância... inúmeros fatores que afastam tantas pessoas e deixam aquele buraco na vida. Mas se a frase "Na doença conhecemos nossos verdadeiros amigos" é verdadeira, posso dizer com toda certeza que tenho muitos amigos! Aliás, prefiro chama-los de anjos... Tive Anjos do Céu me ajudando e tive Anjos da Terra também.

Desde a descoberta da doença pude perceber que não estaria sozinho nessa. Claro que minha família, namorada e minha fé em Deus eram meu combustível, mas para manter a mente sã, foi preciso muita conversa, muito apoio e muita atenção. E foi aí que meus amigos entraram. Confesso não sei nem por onde começar a contar tudo que fizeram por mim e tenho receio de citar nomes e acabar esquecendo alguém. Mas vamos lá!

Após o diagnóstico do médico, procurei não espalhar a notícia. Afinal, minha cabeça estava mais preocupada em pensar como seria todo esse processo, encarar de frente a possibilidade da morte do que preocupar os meus. Guardei por um tempo esse segredo, mas aos pouco fui revelando o que estava acontecendo, já que muitos amigos acompanharam o tempo em que estive muito mal e não sabia o que era.

E para minha surpresa, muitos amigos que a vida acabou separando, foram reaparecendo. Talvez quem nunca passou por algo do tipo não tenha a dimensão de toda força que existe numa simples conversa, num abraço ou mesmo em uma mensagem eletrônica.

Com a cirurgia marcada, foram várias visitas de incentivo e encorajamento. No dia da internação lá estavam amigos, família e namorada. E durante a semana de preparação, a primeira mobilização que me emocionou. Como estava muito mal, precisei tomar três bolsas de sangue. Em contrapartida o hospital solicita que arrumemos alguns doadores. Na verdade, como eles mesmo assumiram, infelizmente o banco de sangue segue em déficit, com poucos doadores. Algumas mensagens trocadas pelo facebook e lá estava eu contando com a ajuda dos meus anjos. Muitos ainda não sabiam o que estava acontecendo comigo mas o resultado foi espetacular! Mais de trinta pessoas doaram seu sangue para o hospital... amigos próximos, amigos distantes e alguns apenas conhecidos que mostraram o tamanho de seu coração. Fiquei surpreso e muito feliz em saber que, de certa forma, minha passagem no hospital já deixava frutos. Tais bolsas doadas serão de grande utilidade para outras pessoas e um dos casos posteriores já me mostrou isso.

Dias depois de internar e já em casa, uma amiga me liga, contando que o hospital tinha entrado em contato, pois ela tinha doado sangue e uma garota precisava exatamente do seu tipo sanguineo e não tinha mais no banco. E no dia seguinte a doação foi feita. A vida é uma imensa teia e indireta ou diretamente estamos ligados a pessoas que nem conhecemos. Não soube mais sobre o caso, mas torço do fundo do coração que a garota esteja bem. 

Pós operação as visitas se intensificaram. No mesmo dia que fui para o quarto já tive várias surpresas. Inclusive meu primo que veio do interior, direto do trabalho, para doar sangue e me visitar, voltando à estrada no mesmo dia. Tinha parentes também distantes, porém queridos. Incrível que, mesmo sem conseguir conversar direito por conta da anestesia e medicamentos, a troca de olhares dizia tudo. Era pura energia.

Nem preciso dizer que, com tudo que vinha acontecendo, apesar da minha força e resistência fora do hospital, lá dentro estava muito emotivo. E no primeiro domingo após operar veio outra demonstração de carinho dos meus anjos. De acordo as normas do hospital, podemos ter duas visitas ao mesmo tempo no quarto. Meus queridos estavam presentes em um número "um pouco" maior... quatorze! Como fiquei feliz com aquele quarto cheio de vida, carinho e esperança. Ali pude realmente perceber que não estava sozinho. Uma visita em especial me fez chorar bastante. A namorada de um grande amigo meu, que também vencera o câncer. Acompanhei a história dela de perto, me lembro do dia que ela foi para a mesa de operação com grandes chances de não voltar, lembro do meu amigo raspando seu cabelo, longo na época, em solidariedade a ela. Sua visita me deu mais coragem ainda, sabia que tudo isso iria passar em breve. Aliás, a visita de todos... pois em cada palavra dita, minhas energias eram renovadas.

Lembro de um telefonema muito importante, quando fui para o quarto, pós UTI. Assim que meu amigo/anjo atendeu, choramos na linha, emocionados. Não importa a idade, não importa o sangue... família é sintonia.

Internado já a duas semanas, sentia falta de sentir o vento na cara, do canto dos pássaros, da liberdade... e que felicidade ligar para meus amigos contando que estava de alta naquela sexta! Acordei um monte de gente, liguei a cobrar mesmo e foi muito bom compartilhar com todos aquele momento.

Depois de chegar em casa, muitas visitas e telefonemas. E como era bom surpreender os que me viam andando, firme e forte. Ficava feliz em perceber nos olhos de cada um a alegria de me ver bem, superando tudo.

Ainda explicarei a situação por inteiro em outro post mas, resumindo, aconteceu outro fato que marcou muito. Devido a Quimioterapia, talvez eu fique estéril por algum tempo ou para sempre. Foi um baque receber a notícia que talvez não pudesse ser pai, chorei muito e procurei uma solução. E o congelamento de sêmen foi a única saída que encontrei. Apesar de seu preço, meu futuro era mais importante, fui atrás e fiz o procedimento, mesmo sem saber ao certo como pagaria tudo aquilo, já que estava sem trabalho, meu pai tinha ido embora e não poderia contar com a renda nem com o incentivo dele. Sempre sonhei ter uma criança, ser pai é uma benção. E ao conversar com o meu sobre isso, não tive as respostas que esperava. Além da impossibilidade financeira, fui incentivado a nem procurar isso pois "ser pai nos dias de hoje era besteira". Não sei como será meu pensamento daqui cinco, dez anos... mas eu precisava ter a opção de ser ou não. 

E, para minha surpresa, meus amigos estavam cuidando de tudo. Sério, tem certas coisas que palavras não descrevem. Organizada por um anjo/irmão, foi feita uma vakinha para pagar os custos do congelamento e da Quimio, como transporte e alimentação. Em um dia muito especial, me convidaram para um simples encontro. Chegando lá, amigos anjos me esperavam, com comes, bebes e muita alegria. Não entendi direito na hora, pois tinha pessoas queridas que não via a tempos. E em dado momento me foi revelado a ajuda que eles conseguiram organizar. Talvez vocês nem saibam, mas no futuro, tenham certeza que meu filho terá muitos padrinhos, viu?!

Mais recentemente tive uma complicação durante as sessões de Quimio, e precisei ser internado novamente. Infecção no intestino, devido minha baixa imunidade. E a privação da minha liberdade, denovo, foi algo complicado de lidar. Um jovem, com tantos sonhos e desejo de lutar por eles, mais uma vez estava de mãos atadas. Realmente me abati. E não é que meus anjos deram seu jeitinho denovo? Um enorme carta de metro, com mensagens de incentivo e esperança... vou deixar para vocês imaginarem o quanto me emocionei com tudo.

E a ajuda de cada um continua sendo fundamental para minha recuperação. Muitas mensagens através da internet, telefonemas, visitas... tudo que vem sendo feito para me alegrar. Eu sou extremamente grato por tudo isso. Deus colocou vocês em meu caminho e o que ele une, nada separa.

Graças a vocês pude realizar muitos sonhos e só posso dobrar os joelhos e agradecer por te-los em minha vida. Que Deus retribua em dobro toda energia positiva presente em cada ação. Alguns doaram sangue, outros dinheiro, outros cartas e mensagens, outros abraços e carinho... mas acima de tudo me doaram esperança e fé na vida. Obrigado, de coração!


"Eu tive amigos de todos os tipos que se imagina. Eu tive irmãos de outras mães, que me aconselhavam. Uns como filhos, que se perderam em cada esquina. Outros como pais, que praticamente me bancavam.

Alguns sumiam por meses, mas eu sempre amei vocês, desculpa se eu disse isso poucas vezes... ou deixei meu ego me calar. Pena que alguns deles já não estão mais por aqui para poder me escutar.

Essa eu escrevi para meus amigos, por que quando perdi eles estiveram comigo. Quando eu cai, eles estiveram comigo. Então quando eu subir eles vão estar comigo também!

Meus amigos são a luz que me guia. Eles podem não saber mas eu devo a eles cada dia e cada novo plano. E só quem já teve uma família na rua vai entender o que estou falando!"

Rashid - Poucos e bons

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Operação, parte II

"É tu, Senhor, que me alimenta de amor e paz. Sempre me lembro de ti, mas hoje quis lembrar mais.
Eu muito peço, mas eu pouco rezo... quase nada oro. Eu recomeço e as vezes peco, por isso choro.

Tudo tem sua hora. Tudo vem no seu momento. Eu honro sua honra e sinto o seu sentimento. 
Conheço sua obra e sei que o negócio é sério. Não adianta quererem desvendar seu mistério.

Reflito isso tudo me olhando no espelho... e vejo que estou de pé, mas o coração de joelho!"
Max BO - Tu Senhor


Após acordar numa maca, em uma sala de espera, deitado, coberto e quase paralisado devido a anestesia, senti que a primeira etapa estava vencida. Não consigo me lembrar de muitos detalhes da tarde/noite de sexta, pois a operação e os medicamentos realmente nos dopam. Me lembro passando de maca pelo corredor onde estava internado, lembro ter acenado para minha mãe, namorada, Ana, tio e alguns amigos presentes. Mas sem condição de conversar. E a previsão de três horas na UTI se estendeu e passei mais de 24 horas por lá, voltando para o quarto somente na noite de sábado.

Minhas poucas lembranças da UTI não foram boas. Fui muito bem cuidado, sim. Mas é um lugar triste, preocupante. Eu estava incapacitado de quase todas minhas funções, sendo preciso que enfermeiras trocassem minha roupa, me lavassem e assim por diante. Acredito que cada vez que piscava, algumas horas se passavam. Lembro de gemidos, lamentações e uma triste notícia de falecimento, que agitou os enfermeiros e a toda a noite. Não conseguia mover as pernas direito, mas percebi que não estava com dreno, porém estava com uma Sonda vesical. Esse tipo de sonda é utilizada quando a pessoa não consegue controlar a saída da urina (anestesiado, por exemplo) e é ligada diretamente na bexiga do paciente e na outra ponta uma bolsa coletora.

Sonda Vesical

Confesso que é desconfortável. Os poucos movimentos que conseguia fazer sempre moviam a tal bolsa e me causavam certa aflição. Outra coisa que fui informado é que o cateter da anestesia peridural ainda estava instalado para caso eu sentisse dor. Quando recebi a notícia de que iria para o quarto, logo me entusiasmei e pedi para retirarem a sonda, pois incomodava muito. Apesar de certa resistência, pois a sonda só seria retirada quando estivesse no quarto, o enfermeiro decidiu me atender. A retirada é rápida, porém dolorosa! Após pedir para prender a respiração, a sonda é esvaziada (o tubo que entra pela uretra é inflado quando inserido) e puxada de uma vez... céus, que ardência! 

Após alguns minutos, me recuperei e aí veio outra parte dolorosa: retirar o cateter da anestesia. Na realidade não é uma dor, em si. Mas é muito aflitivo quando o enfermeiro puxa aquele "fio" que esta na sua medula e você sente ele descendo pelas suas costas. Enfim, estava pronto para ir ao quarto.

Anestesia Peridural

Chegando no quarto, sábado a noite, recebi algumas visitas. Meu primo, que viera de Taubaté, num bate-e-volta só para doar sangue para mim e me visitar, estava lá. Minha namorada também. Meu tio. Amigos. Mesmo sem conseguir conversar direito, pois estava exausto, foi muito importante vê-los lá. Era confortador. 

Na mesma noite, ainda tive que encarar a dor de me levantar para ir ao banheiro, já que pedi para retirarem a sonda. Começava a aprender mais algumas lições da vida, pois tive que encarar a vergonha e pedir pra minha mãe me acompanhar e me segurar, pois estava com medicamentos instalados na veia, dor e acabara de passar dois dias, praticamente, só deitado. Percebi que, independentemente da idade, somos dependentes de alguém, em algum momento. Graças a Deus tive minha mãezinha por lá, que não se importou com nada e me tratou da melhor maneira possível. Ela teve que me ajudar a tomar banho, me levantar e deitar, comer... realmente é uma situação ao qual não estava mais acostumado e tive que encarar. Encarar minhas limitações momentâneas, encarar vergonha, encarar que eu precisava mesmo desses cuidados. Embora minha recuperação tenha sido rápida, os dias demoravam a passar.

No domingo soube que a mobilização dos meus amigos tinha dado certo e que a doação de sangue tinha sido um sucesso. Como precisei de transfusão, o hospital pedia para que levasse, pelo menos, dez pessoas para doar. Enfermeiros relatavam que esse era um grande problema, o banco de Sangue vivia vazio e raramente algum paciente conseguia encontrar pessoas para doar. Pois meus amigos ANJOS provaram o valor da amizade e doaram mais de trinta bolsinhas de sangue. Pessoas próximas, pessoas distantes, amigos de amigos, amigos, namorada e até mesmo minha ex namorada. Todos, me provando quanto vale uma amizade, quanto vale se doar um pouco pela vida dos outros. Sim, aquelas bolsas não foram pra mim, mas tenho certeza absoluta que foram extremamente úteis para alguém. Vidas foram salvas graças aos anjos que quiseram me ajudar de alguma forma. Inclusive teve um caso muito especial, que algum tempo depois que já estava em casa, o hospital ligou para minha amiga Magna, que havia doado sangue, e disse que havia uma paciente muito mal, necessitando exatamente do tipo de sangue que minha amiga tinha e o hospital já não possuía mais no banco. Fiquei extremamente realizado em saber que, indiretamente, fui responsável por levar minha amiga para a doação e que por conta dessa doação, outra vida seria ajudada.

Realmente é um capítulo a parte a força e o incentivo que meus amigos vem me dando. No próximo post falarei exclusivamente disso. Muitas outras demonstrações de amizade vieram e só posso ajoelhar e agradecer ter minha família, minha namorada e amigos como esses. Se alguns dizem que passaria por tudo isso facilmente, pois sou jovem, tenho certeza que passei bem pois contei com o apoio de todos. O corpo jovem poderia responder bem aos procedimentos médicos, mas a mente estaria mal se não fossem esses anjos. 

Voltando ao domingo, tive outra demonstração do poder da amizade: Quase vinte visitas no mesmo horário. Foi uma bagunça tão gostosa, me deu tanta força, que lembro como um dos dias mais felizes que tive no hospital. Eu estava visivelmente sensível e chorei por diversos momentos... mas estava super contente. Eram muitos rostos familiares e fraternos. Teve até um amigo que acabou desmaiando, por já não estar muito bem e ter muita gente no ambiente... ê Caerê, viu?! rs...

Mas nem tudo eram rosas. A cirurgia foi um sucesso, não precisei da colostomia e nem de dreno. Tudo ok. Porém, tiveram que retirar metade do meu intestino devido a extensão do tumor: quase dez centímetros! Alguns médicos se mostravam preocupados e todos nós aguardávamos o resultado da análise patológica, que indicaria o estrago do tumor. Seria feito o estadiamento do câncer, para ver a penetração e possível metástase (novos tumores decorrentes do primeiro).

A aflição pairava na minha cabeça. De certa forma, metade do problema estava resolvido... mas... e se tivesse espalhado o câncer? E se minha luta não tivesse ainda nem começado? A probabilidade da morte nunca se fez tão presente na minha vida e isso me trouxe muita introspecção. Muitas dúvidas, poucas respostas... e só a certeza de que queria viver, buscar meus sonhos. Só não sabia como.

A conversa que tive com o Oncologista responsável pela análise não foi animadora. Pelo contrário. Sem ainda analisar tudo, mas com sua experiência, o Dr. procurou me preparar para o pior, que pela extensão do tumor, provavelmente ele teria se espalhado e que eu passaria por quimioterapia, talvez por um ano, talvez por dois... ou na melhor previsão, seis meses. Um dos momentos que quase desabei foi quando ele perguntou se eu queria ter filho no futuro, pois o tratamento possivelmente me deixaria infértil... Me sugeriu procurar uma clinica de reprodução humana, para congelar meu sêmen e assim garantir a possibilidade de ser pai. Porém o procedimento era muito caro e eu deveria me decidir logo.

O Dr. Tiago, a fim de não criar falsas expectativas, procurou me informar que talvez eu ficasse mais um mês internado, que talvez eu fizesse a primeira sessão de Quimio internado... e esse prognóstico me causou cala frios. Não aguentava mais ficar preso, não sentir o vento e o sol. 

Tais notícias bateram forte na minha mente. Não conseguir ser pai? Logo eu, que tenho tanto essa vontade? Foi difícil assimilar isso, além de um monte de coisas que tinha que me preocupar. Para auxiliar a cicatrização da cirurgia foi recomendado que eu caminhasse bastante e também usasse uma cinta cirúrgica, que protege os pontos evitando que eles estourem em caso de esforço físico, espirro etc. Minha namorada me comprou a cinta, que dá firmeza e confiança para se locomover. É altamente recomendável a todos que passaram por cirurgia no abdômen. Existe também modelos que protegem o tórax, entre outros.

Cinta cirúrgica

Mas passaram-se o domingo, a segunda... e na terça feira meus anjos passaram pelo hospital para me trazer as boas novas.

Primeiro um presente simbólico do meu amigo Leny, que junto com o Rafael e Tadeu, me visitaram nesse dia especial. Era um cordão, com alguns origamis pendurados e uma pedrinha em uma das pontas. Me falta memória para lembrar o nome, mas sei que junto com aquele símbolo, vieram as notícias boas. Nesta mesma terça feita, o oncologista passou para me avisar o resultado da análise patológica: Apesar do tamanho o tumor NÃO se espalhou. Na análise de mais de cinquenta linfonodos, todos negativos. Ali, eu nascia novamente.

Dessa vez eu chorava, mas de alegria. Não importava o tratamento, eu não tinha mais a doença comigo! Teria que tomar a Quimioterapia por seis meses, mas era um tratamento preventivo, que visa eliminar qualquer resquício não identificado da doença. Seria uma luta, mas o principal já estava vencido, graças a Deus! Apesar de grande, o tumor permaneceu apenas no cólon. E eu dava graças pela doença ter se manifestado, pois em questão de profundidade na parede do intestino, o tumor chegou ao nível T3. Mais um, questão de tempo, e ele invadiria outros órgãos... Segue um link com informações da tabela TMN, que classificam os tumores, nódulos e metástase: http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-med/temas/med3/t3b_2000/caso12/patoest.html

E as boas notícias não pararam por aí. Após uma visita da Dr. Cinara, chefe que me operou, ficou acertado que eu passaria por uma pequena cirurgia para implante do Port-a-Cath, cateter interno que usaria para tomar a Quimio, preservando assim as veias do braço e diminuindo a dor.

Port-a-Cath 

Port-a-Cath já instalado, puncionado, recebendo medicação.

Esse tipo de cateter é implantado debaixo da pele e tem ligação com algum acesso venoso melhor que as veias do braço, que comumente estouram e prejudicam o andamento do tratamento. No meu caso, o cateter foi ligado a uma veia do pescoço. Se tiverem alguma dúvida, me procurem que explicarei com maior prazer. O uso de um cateter interno é indicado para longos tratamentos e seu custo é um pouco elevado, porém consegui pelo SUS e acredito que todos deveriam conversar com seu médico para esclarecer e solicitar, caso necessidade.

Como o texto ficou muito longo, deixo para relatar o implante e a volta para casa no próximo post. Além de uma postagem especial para meus anjos/amigos... ;)


Max BO - Tu Senhor

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Operação, parte I

"Senhor Deus, nesta noite eu não queria pedir nada. Por que já pedi tanto e tanta coisa me foi dada.
Saúde pra correr e proteção pelas calçadas. Fui invisível para cada alma mal intencionada.

Mas nessa madrugada eu não me sinto bem. Todo mundo dormiu e eu preciso falar com alguém!
Esse silêncio me tira do trilho e ninguém melhor que o pai pra escutar o desabafo do filho.

Entendi o recado. Não sei o que fiz de mais pra ser tão bem cuidado, já estive todo errado, bolado de trocar os passos, quase caindo pro outro lado, mas sei que alguém me carregava nos braços.

Me ofereceram crime, só que eu recusei.
Me ofereceram farinha, só que eu recusei. 
Se a vontade era minha eu não sei.
Só sei que no vale da sombra e da morte eu fechei os olhos e passei.

Só tenho a agradecer por cada dia. E por me fazer maior do que qualquer problema.
Tem quem não acredita em ti, enfim... Eu acredito por saber que o Senhor também acredita em mim!

Eu não sou melhor do que ninguém não. Eu não mereço mais que ninguém não.
Só estou mantendo os meus passos no chão. 
Tudo que eu peço nessa noite é perdão, por que mil cairão mas eu não serei atingido!"
Rashid - Mil cairão



E era chegada a hora da verdade. De frente para meus medos, sem mais como fugir. Dia 25/03 meu grande amigo Caerê nos levou ao hospital. Eu, ele, minha mãe, Ana e namorada. A espera para internar foi de nada menos que sete horas!

Ansiedade, receio, medo, coragem, fé... uma mistura incrível de sentimentos. Nunca tinha passado uma noite sequer em hospital. Como seria? Já tinha sido avisado que operaria no dia 30/03 e fui antes para o hospital pois teria que ter um preparo, alguns cuidados e exames.

Pois bem, quando chegou minha senha, após preencher a papelada, quando coloquei a pulseira de paciente, quando me chamaram ao quarto e tive que me despedir... Acho que Deus segurou minhas lágrimas. Mas muitas delas ainda cairiam.

Só pude subir com minha mãe, que foi minha grande companheira. Dos treze dias internado, ela ficara comigo em onze. As vezes sem conseguir tomar banho, tendo que me auxiliar em todas tarefas, mal alimentada. O amor de mãe acho que é a maior manifestação de Deus. Só tenho a agradecer por essa guerreira ter deixado todas as lágrimas em casa e ter sido meu maior porto seguro. Nossos papeis se inverteram quando fui para o hospital. Eu, que estava forte, inabalável... desmoronei em alguns momentos. Estava muito sensível, chorava com qualquer mensagem, ligação. Já Dna. Fátima estava em um estado de fé e afeto que me dava uma força tremenda.

Durante os primeiros dias recebi inúmeras visitas de médicos de diversas especialidades e realizei muitos exames. O de sangue constatou uma anemia muito forte. Minha taxa de hemoglobina estava muito abaixo dos 13g/100mm3 de sangue (nos homens). Minha fadiga vinha do fato da taxa estar rolando por volta dos 6g, menos da metade do necessário. Isso justificava também minha aparência pálida.

Outro exame que realizei foi uma tomografia para ver aproximadamente a localização do tumor e seu tamanho. Realizei o exame com contraste, ou seja, era necessário tomar um líquido para que a imagem do exame "enxergasse" a região afetada. A preparação é demorada, pois foram dez copos do líquido meio parecido com soro, tomados um a cada dez minutos. Nesse meio tempo, lembro-me ter conversado com uma senhora que havia operado do coração. Foi mais uma das inúmeras histórias comoventes que ouviria por ali.

Tomografia computadorizada

Confesso que estava empolgado em fazer o exame. Afinal, sempre via essas máquinas enormes e tinha maior curiosidade em saber como funcionava. E após ingerir todo líquido, instalaram um soro em mim e eis que fui a sala do exame. Deitei-me e tive que ficar com os braços pra cima. A esteira que deitei atravessa a máquina por diversas vezes. Em um dos intervalos entre a "ida" e "vinda" da esteira, o Doutor presente na sala aplica o contraste no soro e aí a coisa fica estranha... 

Pelo menos no meu caso, após a aplicação do contraste, tive uma queimação muito grande. E o pior, começou nos braços e foi se intensificar numa região não muito confortável para nós homens... rs. Sorte não durar mais que dois minutos todo o processo. Tomografia feita, exames de sangue também, faltava o resultado cardíaco.

Quem me acompanhou nessa parte foi a Dra. Anna Luíza. Pelo pouco que conversamos, ela era nova lá, mas me tratou com muito profissionalismo e competência. Conduziu todos os exames e inclusive tive uma grata surpresa em um deles. Anos anos tinha diagnosticado uma hipertrofia na válvula mitral... algo considerado normal para atletas de verdade e domingueiros também (meu caso). Não era nada com que se preocupar devido o tamanho, mas requeria um certo acompanhamento. Mas ao realizar o eletrocardiograma, nada apresentei! A enfermeira responsável inclusive chamou sua superior para verificar e tivemos a feliz notícia que não tinha nada lá e meu coração estava ótimo!

Com o aval da equipe médica de cardiologia, faltava apenas um porém para ser operado: meu sangue. Com a anemia que estava não aguentaria uma operação. Seria muito arriscado então tive que receber sangue. Nunca tinha pensado a fundo sobre transfusão de sangue e nas vezes que tentei doar, sempre acontecia algo. Mas só vivendo isso pra entender a grandeza do gesto da doação de sangue.

Precisar tomar duas bolsas cheinhas daquele líquido vermelho, escuro, vistoso. Foi uma sensação a parte. Me questionava de quem poderia ser aquele sangue, se ele realmente era compatível com o meu para não dar maiores complicações, o que levou aquela pessoa à doação? Realmente foi algo diferente. Percebemos a importância de um gesto tão humano. Ao final do post enviarei o endereço e maiores infos sobre doação de sangue.

E não é que os efeitos da transfusão são instantâneos? Assim que terminei de tomar as duas bolsas, duas horas cada, já me senti mais disposto, levantei rápido do leito, dei uma volta no hospital... coisas simples que eu já não conseguia fazer com facilidade antes. Minha mãe diz que minha cor melhorou pouco depois, dava pra ver minhas orelhas vermelhas e alguma cor nos lábios. Isso tudo já era quarta feira... estava chegando a sexta da operação. Ao mesmo tempo que me sentia mais disposto, na quarta mesmo começou uma dieta para "limpar" o intestino. Somente comidas pastosas, muito líquido e uma grande dose de ansiedade. Nesta altura já estava confiante e empolgado em operar. Queria resolver logo aquilo, enfrentar de frente meu problema e trabalhar até chegar na solução.

Na quinta realizei um novo exame de sangue e minha taxa de hemoglobina subira para dez, o suficiente para realizar a cirurgia. A tarde os médicos vieram dar maiores detalhes e aqui cito algumas coisas que esqueci no último post: Meu tumor foi do lado direito do intestino grosso, o lado mais largo onde o tumor não atrapalha-ra a passagem das fezes. Quem tem o mesmo problema, mas do lado esquerdo, pode ter maiores complicações, pois o canal é mais estreito e o tumor poder obstruir o caminho, causando inchaços e, em casos mais grave, até mesmo acabar estourando o intestino.

Independente do lado, a operação consiste em retirar o tumor, cortando com margens os dois lados e depois costurando novamente as pontas. Se não consegui me expressar direito e vocês não entenderam, peçam que eu tento repetir de outra forma. Pois bem, as coisas não são tão simples assim. Nesse momento de "remontar" o intestino, pode acontecer das paredes internas não se juntarem muito bem ou demorarem para se fixar. Nesses casos existe a necessidade de realizar a colostomia e esse foi meu maior medo e motivo de muita oração.

Na colostomia, devido as duas partes do intestino não terem se juntado muito bem, exterioriza-se uma parte dele para a saída das fezes, que fica acumulada numa bolsinha. Realmente é algo que pode causar certos constrangimentos e durante um tempo passei com essa real possibilidade.

Bolsinha de colostomia instalada e estoque.

Não que não seria algo que não conseguimos lidar. A saúde vem antes de tudo. Mas para um jovem, com suas vontades, vaidades e inquietude, ter um cuidado todo especial e a possibilidade de situações desconfortáveis era algo muito pesado. Porém estava disposto a enfrentar tudo e espero que quem esteja passando por isso também não tenha tanto medo quanto tive e tenha forças para encarar qualquer situação que é para seu próprio bem.

Após da transfusão de sangue, recebi uma carta do hospital pedindo meu esforço para levar 10 pessoas para doar sangue, já que tinha utilizado o banco e sabíamos bem que o estoque é limitado. Com o pouco de crédito que me restava no celular, entrei na internet e mandei uma mensagem, via Facebook, para meus contatos... e aconteceu uma das maiores demonstrações de amizade que já tive, mas isso ficará para o próximo post.

E então chegou o grande dia. Coração a mil, ligações, mensagens, fé e ansiedade. Chegada a maca, tive que vestir aquele roupão que deixa a nádega de fora... mas o meu eu amarrei bem e isso não aconteceu, ufa! Nossa amiga Ana já estava no quarto e tenho certeza que foi o que ajudou para segurar as lágrimas da minha mãe... e as minhas também. Deitei na maca, nos despedimos com o coração pequeno e parti.

Durante a condução da maca, o enfermeiro foi conversando comigo. E por não focar no assunto da operação, tenho certeza que a intenção daquele anjo era só me distrair. Dali pra frente, outros tantos anjos trabalhariam para que tudo saísse bem. O caminho foi longo, mas não tenho certeza se ele realmente era ou se isso foi reflexo do filme que passava na minha cabeça. Dali algumas horas eu saberia o destino da minha vida e isso não era algo fácil de lidar.

Chegamos ao andar onde ocorreria a cirurgia, minha maca ficou na sala de espera e ali acho que fiz a oração mais sincera, humilde e forte da minha vida. Na cabeça o som do Rashid ecoando como mantra: "Proteja-me na hora da entrada, proteja-me na hora da saída... sei que perante ti eu não sou nada, mas que minha missão seja cumprida". E durante esse momento aconteceu algo que muitos duvidarão, mas minhas lágrimas agora escrevendo e meus pêlos do braço arrepiados são testemunhas do que vivi.

Como sempre digo, mil anjos me acompanharam nesses momentos todos. Amigos, familiares, namorada, médicos, enfermeiro e anjos divinos também. Minha maca se encontrava quase de frente para a sala de operação, separada por um corredor com elevadores no meio. Quem conhece hospitais ou até mesmo o próprio beneficência, sabem que os elevadores são hiper requisitados e com ascensoristas. E durante minha oração, minha vibração com o espiritual, ouço o barulho de quando o elevador chega ao andar. Como todas as outras vezes desde que estava ali, levantei a cabeça para ver se viria algum médico. Pois o elevador parou, abriu as portas e "ninguém" entrou ou saiu. E assim ficou por algum tempo... e ali vi que eram meus anjos chegando, para me consolar, guiar as mãos dos médicos e cuidar para que tudo desse certo. Foi uma sensação diferente, me sentia acolhido, resgatado...  e toda vez que lembro disso me emociono.

Como diz a música que abriu o post, não sei ao certo o que fiz para ser tão bem cuidado por Deus. Nem sei se mereço tudo isso. Pelo contrário, já fiz tanta coisa errada... mas senti de uma forma única o quanto ele esteve do meu lado nesse pior momento da minha vida. Só posso agradecer e ser fiel a ele, pois ele me carregou nos braços em todos momentos difíceis e estava comemorando comigo todas vitórias também.

Pois bem, outros dois anjos médicos foram me buscar, Dr. Felipe e Dra. Patricia. Chegando na sala de operação, além de alguns anjos desconhecidos, lá estavam outros anjos já citados aqui: Dra. Carina e Dr. Tiago, além da chefe de operação e não menos especial Dra. Cinara.

Troquei de maca, parei em uma bem justa ao corpo, que permitia uma maior aproximação dos médicos. Tive que ficar com os braços abertos, formando um cruz. O anestesista chegou e explicou como seria o procedimento. Primeiro eu tomaria algo para dormir durante toda operação e em seguida tomaria a anestesia peridural, que não chega a corrente sanguínea, mas inibe o cérebro de interpretar a dor e é instalada envolvendo a medula espinhal.

E assim que tomei o boa-noite-cinderela da medicina, após dois minutos, apaguei. Daí pra frente das cinco horas de cirurgia já não sei dizer o que rolou. De testemunhas só meus anjos doutores e meus anjos divinos, aos quais tenho certeza foram responsáveis pelas mãos dos médicos. Pouco antes da cirurgia haviam nos avisado que eu precisaria ter uma meia elástica anti trombose durante o processo e assim que parti para a sala de cirurgia minha mãe correu atrás para comprar, deixando com os doutores durante a cirurgia... mas, apagado, não vi quem a colocou e nem em que momento.

Essa meia é necessária devido o tempo que ficamos de repouso durante e pós cirurgia. A má circulação sanguínea nas pernas pode causar trombose, então se vai passar por isso, providencie de ante mão.

Meia elástica anti trombose.

Me recordo muit bem de quem foi a primeira pessoa que vi quando acordei e a primeira coisa que disse: "Dra. Patricia, eu estou com a bolsinha?". E para minha tranquilidade e felicidade, não estava! A primeira vitória já tinha sido dada e muita coisa aconteceria ainda. Mas por hoje, creio que já escrevi demais. No próximo post falarei da doação de sangue, uti, pós cirugia, o implante do port-a-cath e a volta pra casa. Por enquanto é isso... e muito obrigado pelo incentivo e carinho que vêem me dando. "Sua força é minha força"!



*Info sobre doação de sangue no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo:
Para realizar a doação de sangue, é importante saber: 

Menores de 16 e 17 anos agora podem doar (mediante a presença dos pais ou responsável) 


• Ter entre 18 e 65 anos 

• Pesar acima de 50 kg 
• Estar alimentado 
• Estar sentindo-se bem 
• Ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas 
• Aguardar 2 horas após o almoço e 1 hora após o lanche 
• Estar em boas condições de saúde

Apresentar um documento oficial de identificação: RG(Registro Geral), carteira profissional ou carteira de habilitação.

Intervalo entre as doações de sangue: 

• Homens: 2 meses (4 vezes ao ano) 
• Mulheres: 3 meses (3 vezes ao ano) 

Não podem realizar a doação de sangue: 

• Quem teve Malária ou Doença de Chagas; 
• Quem teve Hepatite após o 10 anos de idade; 
• Quem viajou para área endêmica de malária há menos de 6 meses; 
• Quem recebeu sangue a menos de 1 ano; 
• Quem fez tatuagem a menos de 1 ano; 
• Quem utiliza drogas ilícitas; 
• Quem possui comportamento de risco para adquirir doenças

Local das Doações: 
Rua Martiniano de Carvalho, nº 1009 -Bela Vista/ SP Telefone: (11) 3505-6080 

Horário de Atendimento:
De segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
Aos sábados, das 7h às 14h. 

Informações:
Local - Beneficência Portuguesa de São Paulo -1º andar do Bloco I –Sala 133 Telefones: (11) 35051150 ou 3505-1158
E-mail - bsangue@bpsp.org.br 

Estacionamentos Gratuitos:
Rua Treze de Maio, nº 1854 –Bela Vista/SP
Rua Maestro Cardim, nº560 –Bela Vista/SP